Parece que Foi Ontem
Data: 17/12/2012
Créditos:
Texto:Parece que Foi Ontem-Henrique Mendes
Voz: O Poeta do Deserto Trilha Sonora:Maybe-Yiruma Edição e produções caseiras Agradecimentos:Agradeço ao poeta português a lembrança de minha pessoa para declamar tão magnífico texto de sua autoria,obrigado Henrique Mendes! Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Parece que Foi Ontem
Parece que foi ontem, mas foi há muito tempo. Uma manhã apanhou-me desprevenido e lançou-me a sombra grata de uma árvore gigante sobre umas folhas em branco, à minha frente, à mesa de um café. Depois disso, escrevi-me em manhãs, todas quantas pude. Escrevi-me em passos hesitantes pelas alvuras exigentes dos papéis, que sempre me iam encontrando como sou: - de olhos quase vagos e quase atentos, sentindo em redor, como se olhasse. ( Um adulador de detalhes, na opinião de alguém. ) Escrevi-me dispersamente, espalhando-me pelas histórias que tantas outras mesas me contaram, se sem saber que procurava repetir a força avassaladora daquela primeira vez, quando assim me vi, face á sede inesgotável do papel em branco. Escrevi-me em instantâneos dos outros, que fiz meus. Foram segredinhos, surpresas e rompantes, talvez partículas de passados a que dei formatos e sons, presença numa qualquer história - que existiria mesmo sem mim. Escrevi-me em rituais estereotipados, sofridos, escolhas necessárias, tudo em nome de algo que um dos meus futuros possíveis pudesse eventualmente exigir um dia, quem sabe... Mas o futuro tardava a chegar, e era incerto que o identificasse como sendo o meu... Então, parece que foi ontem, mas já foi há muito tempo, que me escrevi em passos lentos pelas muralhas da cidade, e em todas as fachadas brancas das casinhas sorrindo para o sol; E em cada rua calçada de pedras antigas ecoando vozes de crianças; E em todos os cais, e no ruído quente de todos os bares, e caminhando nas noites que os outros evitaram receosos… Em todas me escrevi, com um olhar de adeus onde havia uma lágrima que humedeceu outras terras, muito além do solo onde cravei os pés. Escrevi-me em cânticos inúteis de louvor a valores desnecessários, e em registos de memórias merecendo serem vagas. Escrevi-me em buscas que jamais terminarei, e em sonhos que jamais saberei parar de sonhar… Parece que foi ontem, e nem tem sido há tanto tempo... Escrevi-me um pouco por toda a parte. Encontrei-me um pouco por todo o lado. Li-me entre pilares de pedra antiga, erguendo-se de águas infinitas até ao horizonte, que marulharam versos meus repletos de sal e de destino… E de lugares por saber... Autoria do poeta português Henrique Mendes em inserção especial em meu site
Enviado por O Poeta do Deserto em 17/12/2012
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