( A seda, trabalho em tela artista Ita Andrade)
A Minha Nona e Derradeira Crônica Com o sabor das marcas não registradas, em ode às cabeças que não pensam nada, continuo com minhas derradeiras crônicas, com a certeza absoluta que tantas outras virão, apesar de eu ter como Sócrates a imensa sensação que “apenas sei que nada sei”. Definitivamente você não vale pelo o que você é, mas, pelo que você tem, esta é uma conclusão permeada tanto de uma certeza inabalável quanto de um tortuoso sentimento de irresignação, tão pouco importa se tens um coração valioso, se tens condutas corretas ou se pregas incansavelmente a união, a sociedade não se importa com tais atributos, é mais valoroso teres um motor de várias válvulas, desfilares sem pisar no chão, usares colônias importadas e habitares em mansão, o ego é companheiro certo nestes mundos de ilusão, mundo onde o que vale é assinar cheques, ter dezenas de cartões de créditos e expor o seu quinhão. Ter a oportunidade de se rodear deste tipo de gente, é ter a exata noção da sensação que o filósofo Sócrates descrevera ao exclamar sua imemorável constatação, o seu desinteresse com as sedas altamente requisitadas comercializadas nas feiras livres da Grécia, momentos em que estas aglomeravam multidões, "Quantas coisas existem de que não preciso para ser feliz", outro dia, eu observei um diálogo entre dois seres da espécie que preferem as sedas a quaisquer tipos de contemplações, me senti tal qual Sócrates, porém, como amador cronista não perdi a chance de abordar tais empolgantes conversações: --- Amiga, tu vais pra onde neste feriado? --- Estava pensando em ir pra balada, mas, a sandália que eu comprei da grife Christian Louboutin ficou muito apertada, eu fiquei desolada, ela ia combinar direitinho com meu vestido estilo Emma Watson da última festa do Oscar, agora estou desprogramada do que irei fazer. --- Eu ia te convidar para ir bebericar em minha casa de praia, pois, a sauna já foi consertada, o ofurô e as Afelandras que foram compradas para decoração do ambiente já se colocaram. --- Pode ser amiga, vai ser o máximo, irei passar na loja para comprar meu biquíni da Acquadelic, pois, não vou passar pelo mico de repetir os meus doze que já usei em tua casa no feriado de um ano atrás, vai que Marcinho esteja por lá. --- Nem te digo amiga, ele ainda está sozinho, vi umas fotos recentes dele no orkut sozinho na boate Nuth no Rio, com certeza ele estará por lá, e não podemos perder a oportunidade de desfilar no seu Nissan Sentra 2010 que tem a chave inteligente presencial I-Key, o acendimento automático dos faróis por sensor crepuscular e o sistema de áudio renovado com entrada USB e cabo para conexão de iPod e tela colorida de 4,3 polegadas. --- Não fale amiga, ele é lindo não é? --- Quem?, Marcinho ou o carro? --- O carro né amiga, estou em uma fase de não me apegar com nenhum homem, e dizem até que Marcinho ainda está muito galinha. --- Francamente, mas, ouvi falar que ele estava com depressão devido ao rompimento com uma ex namorada, passou 20 dias na Inglaterra e tudo, para vencer essa desilusão. --- Danado né, pronto combinado, vou passar com você o feriado, você me convenceu, antes só vou ligar para Claudinha para desfazer o meu outro combinado, além do mais, ela nem tava motorizada e tu sabes que em balada eu gosto de tomar o meu Manhatan sossegada sem me preocupar como vou voltar para casa. --- Perfeito miga, vai ser o máximo, não vejo a hora das azarações do nosso feriado, antes vou só dá um pulinho em São Paulo em um cabeleireiro dos Jardins, pois, dizem que ele anda cortando muito o cabelo de Aline Moraes, vai que na praia eu encontre um Miguel ou um Jorge da novela para mim! --- Amiga você é um arraso, agora eu vou nessa porque vou almoçar no Bargaço, definitivamente estou sentindo falta de frutos do mar, como também estava sentindo falta de estar com você, nós somos tão parecidas amiga. --- Nem fale, adorei também nossa conversa e vou indo também, pois, ta na hora de eu malhar, beijitos!! Atônito com tantas abstrações e com o alto teor de profundidade daquela conversação, me detive no inesquecível Sócrates que há anos valorava o que não era vão, os valores hoje em dia estão invertidos, não se enxerga mais o coração, tomei um laxante da marca Lacto Purga, baixei minha bermuda de marca ignorada, e sentei em minha privada de marca Celite, e expurguei ali toda minha indignação que tinha entrado pelos ouvidos sem autorização, ali sim, em meio ao fétido odor, inebriado, me vi na Grécia antiga proseando com o ilustre filósofo e observando tanta aberração, que ainda há hoje em dia, das sedas que não preciso, outros se matam em vão... O Poeta do Deserto
Enviado por O Poeta do Deserto em 09/01/2010
Alterado em 23/10/2015 Copyright © 2010. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |